O gado ovino é um processador nato, pois uma vez que aprecia salgueiros (Salix sp), sorveiras (Sorbus aucuparia), álamos (Populus sp) e amieiros (Alnus glutinosa), consome as árvores que seriam normalmente eliminadas nas limpezas e desbastes. Dada a sua estratégia de alimentação (e.g. Castro and Fernández-Núñez 2016), observa-se que para valores de encabeçamento adequado as árvores com maior valor comercial (pinheiros e píceas por exemplo) não são consumidas. O encabeçamento recomendado varia bastante (0.2 a 4 ovelhas por hectare) dependendo do tipo de pastagem: 0.2-1 ovelhas ha-1 em áreas silvopastoris de pastagem em altitude; 1.5-2.5 ovelhas ha1 em povoamentos florestais; 2-4 ovelhas ha-1 em prados de zonas costeiras, 1.5-2 ovelhas ha-1 em prados de sequeiro; 2-2.5 ovelhas ha-1 em prados verde (Syörinki, 2007). Com encabeçamentos demasiado elevados, por exemplo entre 7 – 10 ovelhas ha-1, algumas espécies florestais relevantes como os pinheiros e bétulas (folhas, agulhas e casca) podem ser consumidos e/ou danificados (Anderson et al. 1985).
A bétula ou vidoeiro (Betula celtiberica) é uma espécie consumida pelo gado ovino, mas nas florestas mais produtivas da Finlândia, onde a sua regeneração é abundante, normalmente não se verificam problemas para a sua promoção. No entanto, a regeneração desta ou de outra qualquer espécie florestal depende das características do povoamento, e em sistemas silvopastoris é necessário garantir a presença suficiente regeneração natural, especialmente se a espécie se apresentar pouco representada no ecossistema. Esta preocupação é partilhada em sistemas silvopastoris do sul da Europa, como os montados de sobro ou azinho. Estudos recentes demonstram que limitar o encabeçamento a 0.40 cabeças de gado por hectare (Arosa et al. 2017), e promover um período de exclusão de pastoreio de 5 anos, aumenta a diversidade das espécies arbustivas presentes, assim como a regeneração e instalação de espécies arbóreas (Listopad et al. 2018), sendo ambos fatores fundamentais para a manutenção de populações sustentáveis de sobreiro ou azinheira.
Para as condições e ecossistemas de países do norte da europa existem ainda várias lacunas referentes a estudos de referência que indiquem o encabeçamento mais adequado, em particular em função da produtividade da estação. No entanto, existem muitos estudos internacionais, que documentam a prática silvopastoril e que podem ser considerados (Ministry of Forests of British Columbia 2000, Salmon et al. 2007, Hjelford et al. 2014).
Povoamento de bétula em regime silvopastoril com ovelhas. A maioria da regeneração jovem de folhosas e arbustos é consumida pelas ovelhas, poupando-se os custos de desbastes e limpezas e abrindo o povoamento para que as árvores possam crescer. Créditos: Michael den Herder
Floresta jovem de pícea em regime silvopastoril com ovelhas. Créditos: Michael den Herder
Dadas as preferências alimentares do gado ovino é possível manter um regime silvopastoril mesmo nos povoamentos com regeneração muito jovem. Estes animais consomem preferencialmente as plântulas e árvores jovens de folhosas, simulando naturalmente o desbaste do povoamento. Neste sistema, o proprietário reduz custos com as limpezas e desbastes pré-comerciais. As árvores abatidas nas limpezas e desbastes pré-comerciais são normalmente deixadas na mata para a manutenção de nutrientes da estação. A pastorícia pode ter os mesmos impactos que as limpezas e desbastes pré-comerciais, correspondendo a um modo mais natural de gestão. Assim, a pastorícia reduz a competição entre as árvores e tem um impacto positivo na reciclagem de nutrientes, o que beneficia o crescimento das restantes árvores.
Existem outros fatores ambientais que influenciam a regeneração natural e que podem interagir com a prática da silvopastorícia. Por exemplo, alguns estudos demonstram que um encabeçamento moderado a intenso pode reduzir a abundância de roedores (den Herder et al. 2016, Schieltz & Rubenstein 2016). Esta redução é benéfica para a regeneração natural, uma vez que quando as suas densidades populacionais são elevadas estes são capazes de eliminar totalmente a regeneração natural do ano. Mesmo assim, o encabeçamento não deverá ser tão elevado que permita eliminar totalmente a população de roedores, pois tal teria um impacto negativo nas populações de aves de rapina, entre outros predadores.
Outra vantagem da utilização deste sistema silvopastoril é a sombra que este garante ao gado no verão. De norte a sul da Europa, segundo os cenários mais recentes de alterações climáticas, os períodos prolongados de tempo muito quente e seco irão decerto ser mais frequentes num futuro próximo, sendo por isso fundamental que os animais tenham acesso à sombra. Outra vantagem é o facto de se reduzirem ou eliminarem as necessidades de fornecer alimentação suplementar aos animais. No passado Verão, que se caracterizou por ser extremamente quente e seco na Finlândia, o pastoreio terminou a meio de Setembro, duas semanas mais cedo em relação ao ano anterior. Apesar desta situação, Otto Makkonen, um agricultor que utiliza gado ovino em sistema silvopastoril na região de Savonranta, não necessitou de adquirir alimentação adicional uma vez que disponha de bastante forragem. Este sistema demonstrou assim a sua maior resiliência em relação ao impacto das alterações climáticas, dado que conseguiu minimizar os problemas gerados pela invulgar seca do Verão de 2017 sofrida nesta região.
Existem vários outros exemplos de práticas silvopastoris com gado ovino para a gestão de paisagens e florestas. No sul da Europa e nas zonas áridas dos EUA, por exemplo, ovinos e caprinos são utilizados para manter a vegetação reduzida em zonas propícias a incêndios. De acordo com os cenários de alterações climáticas, os incêndios florestais serão cada vez mais uma ameaça crescente tanto nestas regiões como no norte da Europa (Reyer et al. 2017). Na Finlândia já se utiliza gado ovino atualmente para controlar a vegetação debaixo das linhas de alta tensão, e os agricultores podem receber uma compensação financeira por este serviço. Outra utilização eficaz deste gado na gestão da paisagem é a pastorícia em pistas de ski, como por exemplo na estância de ski de Tahkovuori no sul da Finlândia. As pistas de ski são muito difíceis de gerir dada a dificuldade e o perigo da utilização de maquinaria em zonas de declive tão acentuado, e alem disso essas operações criam sérios riscos de erosão. O gado ovino é muito eficiente na gestão das pistas de ski, que são assim geridas de modo muito mais natural, o que cria condições de trabalho muito mais seguras, oportunidades de recreio e produção sustentável de carne, e paisagens muito mais pitorescas.