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Um dos primeiros desafios a considerar quando começaram a trabalhar a terra foi a gestão da água, particularmente a preocupação de como promover a infiltração de água. Os valores de precipitação na região, nos passados três anos, foram em média de 300 mm por ano, concentrada em eventos de curta duração, de uma semana ou um mês. Mesmo considerando que a propriedade inclui uma linha de água temporária que a atravessa desde o canto a sul até ao canto oposto, durante eventos de intensa precipitação esta linha de água, que acaba a receber também o excesso de água dos terrenos e estradas de terra circundantes, enche rapidamente, levando a que a água em excesso acabe por escoar livremente para fora da propriedade, não chegando a ocorrer infiltração.
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De maneira a promover a infiltração de água numa superfície maior e para aumentar o efeito de leito de cheia, os promotores do projeto decidiram começar por instalar valas, ou “swales”. A sua particularidade é a de que o topo da vala encontra-se em curva-de-nível, enquanto o fundo não, promovendo assim a retenção de água, a sua redistribuição pelas áreas de interesse no terreno e, assim, a sua infiltração. Em Março de 2018, com um orçamento de 3000 € e cerca de 60 horas de trabalho, recorrendo a uma escavadora, foi instalado 1 km de valas com profundidades entre 0,5 e 1,5 m. A 20 de Maio, dois meses depois da construção das valas, houve um evento de chuva intensa, funcionando como teste à capacidade da vala face a eventos extremos, onde caíram cerca de 30 l m-2 de água numa hora. A água lamacenta espalhou-se pelos 750m da vala principal, lá permanecendo cerca de um mês, até a maioria se ter infiltrado, atraindo vários pássaros e insectos nesse período.
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A longo prazo, é expectável que a infiltração extra de água ocorrida pela presença das valas contribua para a subida do lençol freático que, em décadas recentes, conforme testemunhos da população local e ao facto de várias fontes de água da zona terem secado, tem vindo a descer significativamente. Esta subida da altura do lençol freático permitiria um acesso mais fácil e mais barato à água, evitando a necessidade de esforçar as bombas de águas existentes ou de aquisição de bombas mais potentes.
Ao mesmo tempo que a infiltração da água aumenta, estão a ser implementados vários sistemas agroflorestais com múltiplas espécies arbóreas e arbustivas e culturas agrícolas. Para isso criaram o seu próprio viveiro de plantas, onde produzem mais de vinte espécies diferentes de árvores, incluindo, por exemplo, Araucaria sp. e Morus sp. No futuro, algumas destas plantas jovens poderão ser vendidas, representando um rendimento extra para a quinta.
Outro importante problema com que têm de lidar é o baixo conteúdo em matéria orgânica dos solos. Os resíduos produzidos pela poda e o corte dos eucaliptos já existentes na propriedade serão usados para aumentar essa matéria orgânica no solo: os troncos maiores são enterrados ao longo dos caminhos e das bermas das hortas, para que a sua decomposição ocorra, enquanto os troncos de médias dimensões são usados para vedações e a folhagem e ramos mais finos servem de ‘mulching’, tanto para protecção da biota do solo, como para a retenção de humidade e estabilização da temperatura do solo.
De forma a influenciar o microclima através do corte do vento, da promoção da condensação do orvalho, da sombra, do aumento da humidade do ar e como preparação para a instalação posterior de árvores forrageiras e de fruto, algumas espécies de árvores adaptadas às condições locais têm vindo a ser instaladas, incluindo várias espécies de eucaliptos. Casuarinas e outras árvores e arbustos fixadores de azoto (e.g. Ceratonia siliqua, Albizzia sp.) estão também a ser testadas. Estas primeiras plantações localizam-se principalmente na margem inferior das valas de forma a beneficiarem da infiltração extra de água.
Os critérios seguidos para a escolha das espécies de árvores a plantar inclui: 1) a adaptação à grande profundidade do lençol freático através do desenvolvimento de um sistema radicular profundo, 2) uma copa adaptada ao verão longo, de grande exposição solar, e com ar e vento seco, 3) a tolerância aos solos pobres e arenosos e 4) a aceitação de podas intensas.
Perto da casa existem duas áreas com cerca de 400 m2 dedicadas à produção de vegetais diversos. Estes foram organizados em diferentes estratos e consociações de espécies, de forma a preencher o espaço horizontal, para competir com as ervas daninhas, e o vertical, misturando linhas de árvores com plantas altas, plantas rasteiras e tubérculos. Estas áreas também providenciam para alguns cabazes de vegetais que são entregues na zona de Lisboa, no caminho que a Mónica percorre para ir trabalhar – uma deslocação multifuncional.
Outro aspecto que se encontra em desenvolvimento é a criação de vedações vivas para rodear as áreas de pastagem em diferentes zonas da propriedade, onde um plano de pastoreio rotacional será desenvolvido. Numa primeira fase incluirá uma colaboração com o pastor vizinho (que possui cerca de 400 ovelhas), que poderá aproveitar esta área para colocar o seu rebanho a pastorear, sendo que a quinta aproveita o pisoteio da vegetação existente assim como os excrementos deixados pelos animais, de forma a contribuir, também, para aumentar a matéria orgânica do solo.
Do ponto de vista mais social, o João e a Mónica estão a trabalhar com a paróquia e a rede agroecológica locais, recebendo quem quiser saber mais sobre o projeto e esteja disponível para colaborar com eles. São organizadas boleias para a quinta via facebook e ao Sábado são organizados vários encontros.
Ajudantes nunca são demais!